Separado Para Deus

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Jacó, Agarrador do Calcanhar


Filho de Isaque e Rebeca, e gêmeo mais moço de Esaú. Os pais de Jacó já estavam casados 20 anos antes de nascerem estes gêmeos, seus únicos filhos, em 1858 AEC. Isaque, nessa época, tinha 60 anos. Assim, como se deu no caso de Abraão, as orações de Isaque para ter descendentes só foram respondidas depois que sua paciência e sua fé nas promessas de Deus tinham sido plenamente testadas. (Gêneses 25:20, 21, 26; Romanos 9:7-10).
Em sua gravidez, Rebeca sentiu-se afligida pela luta dos gêmeos no seu ventre, os quais, explicou Jeová, eram o início de duas nações oponentes. Ademais, Jeová declarou que, contrário ao costume geral, o mais velho serviria ao mais jovem. Concordemente, Jacó, que foi o segundo a nascer, segurava o calcanhar de Esaú quando nasceram; daí o nome Jacó, que significa “Agarrador do Calcanhar”. (Gêneses 25:22-26) Jeová demonstrou assim sua capacidade de detectar a inclinação genética dos nascituros, e de exercer sua presciência e seu direito de escolher, de antemão, a quem ele prefere para seus propósitos; contudo, de forma alguma ele predetermina o destino final dos indivíduos. (Romanos 9:10-12; Oseias 12:3).
Em contraste com Esaú, filho favorito de seu pai, que era um tipo de caçador selvagem, irrequieto e perambulante, Jacó é descrito como “homem inculpe [hebr.: tam], morando em tendas”, alguém que levava uma tranqüila vida pastoril e merecia confiança no trato dos assuntos domésticos, alguém especialmente amado pela mãe. (Gêneses 25:27, 28) Esta palavra hebraica tam é usada em outros lugares para descrever os aprovados por Deus. À guisa de exemplo, “homens sanguinários odeiam ao inculpe”, todavia, Jeová assegura que “o futuro deste homem [inculpe] será pacífico”. (Provérbios 29:10; Salmos 37:37) O íntegro Jó “mostrava ser inculpe [hebr.: tam] e reto”. (Jó 1:1, 8; 2:3).

Recebeu o Direito de Primogenitura e a Bênção. 
Abraão só morreu depois de seu neto Jacó já ter 15 anos, em 1843 AEC, e, assim, o menino teve ampla oportunidade de saber do pacto juramentado de Deus diretamente dos lábios de seu avô, bem como de seu pai. (Gêneses 22:15-18) Jacó compreendia o grande privilégio que seria participar no cumprimento de tais promessas divinas. Por fim, surgiu a oportunidade de comprar legalmente de seu irmão o direito de primogenitura e tudo o que ela incluía. (Deuteronômio 21:15-17) Esta oportunidade surgiu certo dia, quando Esaú veio exausto do campo e sentiu o cheiro do saboroso cozido que seu irmão tinha preparado. “Depressa, por favor”, exclamou Esaú, “dá-me um bocado do vermelho — do vermelho aí, pois estou cansado!” A resposta de Jacó foi: “Vende-me primeiro teu direito de primogênito!” ‘Esaú desprezou a primogenitura’, e, assim, a venda foi feita rapidamente e selada por um juramento solene. (Gêneses 25:29-34; Hebreus 12:16) Era motivo suficiente para Jeová dizer: “Amei a Jacó, mas odiei a Esaú.” (Romanos 9:13; Malaquias 1:2, 3).

Era direito Jacó fingir ser Esaú?
Quando Isaque já era idoso e pensava que ia morrer em breve, mandou Esaú caçar carne de veado, dizendo: “Deixa-me comer, para que a minha alma te abençoe antes de eu morrer.” Rebeca, porém, ouviu a conversa e prontamente mandou Jacó apanhar dois cabritinhos, a fim de que ela pudesse preparar um prato gostoso para Isaque, e ela disse a Jacó: “Tens de levá-lo a teu pai e ele tem de comê-lo, para que te abençoe antes da sua morte.” Ela colocou até mesmo as peles dos cabritinhos sobre as mãos e o pescoço de Jacó, para que Isaque, ao apalpar Jacó, chegasse à conclusão de que era Esaú. Quando Jacó levou o alimento a seu pai, Isaque perguntou-lhe: “Quem és, meu filho?” E Jacó respondeu: “Eu sou Esaú, teu primogênito.” Conforme Jacó bem sabia, ele tinha legalmente o direito de assumir o papel de Esaú, o primogênito de Isaque. Isaque apalpou Jacó para saber se realmente era Esaú, e disse: “A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú.” Todavia, tudo saiu bem, e, conforme diz o relato, Isaque “o abençoou”. (Gêneses 27:1-29) Haviam Rebeca e Jacó agido direito?
Não pode haver dúvida de que Jacó tinha o direito à bênção. Antes de nascerem os gêmeos, Jeová dissera a Rebeca: “O mais velho servirá ao mais jovem.” (Gêneses 25:23) Mais tarde, em harmonia com a inclinação que Jeová já previra e que o induzira a amar mais a Jacó do que a Esaú, Esaú vendeu seu direito de primogenitura a Jacó por apenas uma tigela de cozido. (Gêneses 25:29-34).
O relato bíblico não revela até que ponto Isaque sabia destas indicações quanto a quem havia de receber a bênção. Não sabemos precisamente por que Rebeca e Jacó agiram daquela maneira, exceto que ambos sabiam que a bênção pertencia a Jacó. Jacó não fingiu maliciosamente ser o outro para conseguir algo a que não tinha direito. A Bíblia não condena o que Rebeca e Jacó fizeram. O resultado foi que Jacó recebeu de direito a bênção. O próprio Isaque evidentemente viu que se fizera a vontade de Jeová. Pouco depois, quando enviou Jacó a Harã, para obter uma esposa, Isaque abençoou Jacó mais uma vez e disse especificamente: “O Deus Todo-poderoso . . . te dará a bênção de Abraão.” (Gêneses 28:3, 4; compare isso com Hebreus 11:20). Chegamos assim corretamente à conclusão de que o caso resultou assim como Jeová se propusera. A Bíblia especifica claramente a lição que devemos tirar deste relato, advertindo de que devemos ter cuidado “para que não haja fornicador, nem alguém que não estime as coisas sagradas, igual a Esaú, que em troca de uma só refeição renunciou aos seus direitos de primogênito”. (Hebreus 12:16).

Mudança de Jacó Para Padã-Arã. 
Jacó tinha 77 anos quando deixou Berseba para ir à terra de seus antepassados, terra em que passou os próximos 20 anos de sua vida. (Gêneses 28:10; 31:38) Depois de viajar para o NNE por uns 100 km, parou em Luz (Betel), nas colinas de Judá, para ali passar a noite, utilizando uma pedra qual travesseiro. Ali, em seus sonhos, viu uma escada, ou escadaria, que atingia os céus, na qual anjos subiam e desciam. No topo, Jeová aparecia em visão, e ele então confirmou a Jacó o pacto divino feito com Abraão e com Isaque. (Gêneses 28:11-13; 1 Crônicas 16:16, 17).
Neste pacto, Jeová prometeu a Jacó que o guardaria e sustentaria, e que não o abandonaria, até que a terra em que estava deitado se tornasse dele, e a semente (ou descendência) dele se tivesse tornado inumerável como as partículas de pó da terra. Ademais, declarou: “Todas as famílias do solo hão de abençoar a si mesmas por meio de ti e por meio da tua descendência [semente].” (Gêneses 28:13-15) Quando Jacó se deu plenamente conta do sentido da experiência que teve naquela noite, exclamou: “Quão atemorizante é este lugar! Não é senão a casa de Deus.” Assim, mudou o nome de Luz para Betel, que significa “Casa de Deus”, e passou a erguer uma coluna e a ungi-la como testemunha destes momentosos eventos. Em grata resposta à promessa de apoio da parte de Deus, Jacó também jurou que, sem falta, daria a Jeová um décimo de tudo que recebesse. (Gêneses 28:16-22).
Prosseguindo viagem, Jacó finalmente conheceu sua prima, Raquel, na vizinhança de Harã, e foi convidado pelo pai dela, Labão, irmão da mãe de Jacó, a ficar com eles. Jacó apaixonou-se por Raquel e combinou trabalhar sete anos para o pai dela, se este lha desse como esposa. Os anos que passavam pareciam “como apenas alguns dias”, tão profundo era o amor de Jacó por Raquel. Entretanto, por ocasião do casamento, Raquel foi aleivosamente substituída por Léia, sua irmã mais velha, explicando Labão: “Não é costumeiro . . . dar a mais jovem antes da primogênita.” Depois de celebrar este casamento por uma semana, Labão então deu também Raquel a Jacó como esposa, depois dum acordo para que Jacó trabalhasse mais sete anos em pagamento dela. Labão também deu a Léia e a Raquel duas servas, Zilpa e Bila, respectivamente. (Gêneses 29:1-29; Oseias 12:12).
Jeová começou a edificar uma grande nação com base neste arranjo matrimonial. Léia deu a Jacó quatro filhos em sucessão: Rubem, Simeão, Levi e Judá. Raquel, vendo que continuava estéril, deu então a Jacó sua escrava Bila, e, por meio dela, obteve dois filhos: Dã e Naftali. Nesta época, Léia continuava estéril. Assim, ela também deu a Jacó a sua escrava, Zilpa, e desta união obteve dois filhos, a saber, Gade e Aser. Léia começou então de novo a ter filhos, dando à luz primeiro Issacar, daí Zebulão, e então uma filha, chamada Diná. Raquel, finalmente, ficou grávida e deu à luz José. Em conseqüência disto, no comparativamente curto período de sete anos, Jacó foi abençoado com muitos filhos. (Gêneses 29:30-30:24).

Jacó É Enriquecido Antes de Partir de Harã. 
Tendo cumprido seu contrato de trabalho de 14 anos, para a obtenção de suas esposas, Jacó mostrou-se então ansioso de retornar à sua terra. Mas Labão, vendo como Jeová o havia abençoado devido a Jacó, insistiu com Jacó para que continuasse a supervisionar os rebanhos dele; disse a Jacó que este poderia até mesmo estipular seu próprio salário. Naquela parte do mundo, as ovelhas e as cabras, em geral, são de uma única cor, as ovelhas sendo brancas, e, as cabras, negras. Jacó, portanto, pediu que apenas as ovelhas e as cabras de cor ou marcas incomuns lhe fossem dadas — todas as ovelhas de cor marrom-escura, e todas as cabras com qualquer salpicado de branco. “Ora, isto é excelente!” foi a resposta de Labão. E, a fim de manter o salário de Jacó tão baixo quanto possível, Labão, à sugestão de Jacó, retirou dos rebanhos todas as cabras listradas, salpicadas e malhadas, e todos os carneiros novos, marrom-escuros, que entregou aos cuidados de seus próprios filhos, até mesmo interpondo uma distância de três dias entre eles, para impedir qualquer cruzamento entre os dois rebanhos. Apenas os animais nascidos com cor incomum, no futuro, seriam de Jacó. (Gêneses 30:25-36).
Assim, Jacó começou a cuidar apenas das ovelhas de cor normal e das cabras sem sinais. No entanto, trabalhou muito e fez o que achava que iria aumentar a quantidade dos animais de cor incomum. Pegou varas frescas de estoraque, de amendoeira e de plátano, descascou-as de modo a lhes dar um aspecto listrado e malhado. A estas colocou nas calhas dos bebedouros dos animais, aparentemente pensando que, se os animais olhassem para as faixas quando no cio, haveria uma influência pré-natal, que faria com que a cria fosse de cor malhada ou incomum. Jacó também teve o cuidado de colocar as varas nos cochos apenas quando os animais mais fortes e robustos estavam em cio. (Gêneses 30:37-42).
Com que resultado? As crias com marcas ou de cor incomum, e que, por conseguinte, eram o salário de Jacó, mostraram ser mais numerosas do que as de cor uniforme, normal, que seriam de Labão. Visto que o resultado desejado foi conseguido, Jacó provavelmente imaginava que o responsável por isso era seu estratagema com as varas listradas. Nesse particular, ele provavelmente comungava da mesma concepção errônea, comum a muitas pessoas, a saber, que tais coisas podem influir na prole. No entanto, num sonho, seu Criador o instruiu a pensar de outra forma.
Em seu sonho, Jacó veio a saber que certos princípios genéticos, e não as varas, eram responsáveis pelo seu êxito. Ao passo que Jacó cuidava apenas dos animais de cor uniforme, a visão, todavia, lhe revelou que os cabritos eram listrados, salpicados e malhados. Como poderia isto acontecer? Pelo que parece, eram híbridos, embora tivessem cor uniforme, sendo o resultado de cruzamentos feitos no rebanho de Labão antes de Jacó começar a ser pago. Assim, determinados animais dentre estes traziam, nas suas células reprodutoras, os fatores hereditários que resultariam em futuras gerações malhadas e salpicadas, segundo as leis da hereditariedade descobertas por Gregório Mendel no século passado. (Gêneses 31:10-12).
Nos seis anos em que Jacó trabalhou sob este arranjo, Jeová o abençoou e o fez prosperar imensamente, aumentando não só os rebanhos dele, mas também o número de seus servos, de seus camelos e de seus jumentos, e isto apesar de Labão continuar a mudar o salário em que haviam concordado. Por fim, o “verdadeiro Deus de Betel” instruiu Jacó a retornar à Terra da Promessa. (Gêneses 30:43; 31:1-13, 41).
Retorno à Terra da Promessa. Temendo que Labão tentasse novamente impedir Jacó de deixar o serviço dele, Jacó tomou secretamente suas esposas e seus filhos, e tudo o que possuía, cruzou o rio Eufrates, e dirigiu-se para Canaã. Ao tencionar este passo, Jacó provavelmente estava apascentando seus rebanhos perto do Eufrates, conforme indicado em (Gênesis 31:4, 21). Nessa ocasião, Labão estava ausente, tosquiando seus rebanhos, e só foi informado da partida de Jacó três dias depois. Pode ter-se passado mais tempo até terminar a tosquia e serem feitos preparativos para Labão, com suas forças, perseguir a Jacó. Ao todo, isto deve ter dado a Jacó tempo suficiente para levar seus rebanhos, que se moviam lentamente, até a região montanhosa de Gileade, antes de Labão o alcançar, a uma distância não inferior a uns 560 km de Harã, distância esta, porém, que podia ser facilmente coberta em sete dias por Labão e seus parentes montados em camelos, em acirrada perseguição. (Gên 31:14-23).
Quando Labão encontrou o objeto de sua perseguição acampado a alguns km ao N do Jaboque, exigiu que Jacó explicasse: Por que tinha partido sem permitir que Labão beijasse suas filhas e seus netos em despedida, e por que tinha roubado os deuses de Labão? (Gêneses 31:24-30) A resposta à primeira pergunta era um tanto óbvia — o receio de que Labão o impedisse de partir. Quanto à segunda pergunta, Jacó nada sabia sobre um furto, e uma busca não revelou que Raquel havia deveras roubado os terafins da família e os havia escondido no cesto da sela de seu camelo. (Gêneses 31:31-35).
Uma explicação para o modo de agir de Raquel, e a preocupação de Labão, é a seguinte: “A posse dos deuses domésticos assinalava a pessoa como sendo o herdeiro legítimo, o que explica a ansiedade de Labão, em (Gêneses 31:26 ss.), de recuperar os deuses domésticos, que estavam com Jacó.” (Textos Antigos do Oriente Próximo), editado por J. B. Pritchard, 1974, p. 220, n. 51.
Uma vez resolvida pacificamente a contenda entre eles, Jacó ergueu uma coluna de pedra e então empilhou pedras, que permaneceram ali por muitos anos, como testemunho do pacto de paz que estes dois haviam concluído com uma refeição cerimonial. Os nomes dados a este montão de pedras foram Galeede (“Montão de Testemunho”) e A Torre de Vigia. (Gêneses 31:36-55).
Jacó mostrou-se então ansioso de fazer as pazes também com seu irmão, Esaú, a quem já não via por mais de 20 anos. Para aplacar qualquer ódio latente que seu irmão pudesse ainda nutrir, Jacó mandou à sua frente custosos presentes para Esaú — centenas de cabras e ovelhas, e muitos camelos, jumentos e cabeças de gado. (Gêneses 32:3-21) Jacó tinha fugido de Canaã praticamente sem nada; agora, graças à bênção de Jeová, retornava um homem rico.

Por que fez o anjo com quem Jacó se engalfinhou que este mancasse?
Na noite em que a casa de Jacó atravessou o Jaboque em caminho para o S, ao encontro de Esaú, Jacó teve a experiência bem incomum de lutar com um anjo, e, devido à sua perseverança, seu nome foi mudado para Israel, que significa “Contendedor (Perseverador) com Deus; ou: Deus Contende”. (Gêneses 32:22-28) Depois disso, ambos os nomes surgem com freqüência em paralelismos poéticos, hebraicos. (Salmos 14:7; 22:23;78:5, 21, 71; 105:10, 23) Nesta contenda, o anjo tocou na concavidade da articulação da coxa de Jacó, e Jacó passou a mancar pelo resto da vida — talvez para lhe ensinar humildade; era um constante lembrete de não se exaltar demais por causa de sua prosperidade, concedida por Deus, ou por ter-se engalfinhado com um anjo. Em comemoração destes momentosos eventos, Jacó chamou aquele lugar de Peniel ou Penuel. (Gêneses 32:25, 30-32).
Depois de concluído o encontro amigável entre Jacó e Esaú, estes gêmeos, agora com cerca de 97 anos, seguiram cada um o seu caminho, presumivelmente não se encontrando de novo senão quando juntos sepultaram seu pai, Isaque, uns 23 anos mais tarde. Esaú dirigiu-se para o Seir, com os presentes recebidos, e Jacó voltou-se para o N, atravessando de novo o Jaboque. (Gêneses 33:1-17; 35:29).

Os Próximos 33 Anos Como Residente Forasteiro. 
Depois de separar-se de Esaú, Jacó fixou-se em Sucote. Este foi o primeiro lugar em que Jacó permaneceu por um tempo mais longo, após ter voltado de Padã-Arã. Não se declara quanto tempo ficou aqui, mas pode ter sido por vários anos, pois construiu para si uma estrutura permanente para morar, e também barracas ou alguma espécie de baias cobertas, para seu gado. (Gêneses 33:17).
A próxima mudança de Jacó foi em direção O, cruzando o Jordão para a vizinhança de Siquém, onde comprou um lote de terreno dos filhos de Hamor por “cem peças de dinheiro [hebr.: qesi·táh]”. (Gêneses 33:18-20; Josué 24:32) O valor daquela antiga unidade monetária, a qesi·táh, é hoje desconhecido, mas cem delas, ao todo, podem ter sido uma soma considerável de prata, quando pesada, visto não haver moedas naqueles dias.
Foi em Siquém que Diná, filha de Jacó, começou a associar-se com as mulheres cananéias, e isto, por sua vez, abriu o caminho para Siquém, filho do maioral Hamor, violentá-la. No rastro deste episódio, as coisas logo assumiram proporções além do controle de Jacó — os filhos dele mataram todos os habitantes do sexo masculino de Siquém, tomaram cativas as mulheres e as crianças, apropriaram-se de todos os bens e riquezas daquela comunidade, e fizeram que Jacó, seu pai, se tornasse mau cheiro entre os habitantes do país. (Gêneses 34:1-31).
Jacó foi então divinamente orientado a deixar Siquém e a descer a Betel, o que ele fez. No entanto, antes de partir, fez com que os da sua casa se purificassem, mudassem de roupa, removessem todos os seus deuses falsos (provavelmente incluindo os terafins de Labão), bem como os brincos possivelmente usados como amuletos. Jacó os enterrou fora do alcance da vista, perto de Siquém. (Gêneses 35:1-4).
Betel, a “Casa de Deus”, tinha importância especial para Jacó, pois fora ali, talvez uns 30 anos antes, que Jeová transferira para ele o pacto abraâmico. Agora, depois de Jacó construir um altar para este grande Deus de seus antepassados, Jeová expressou novamente o pacto e também confirmou que o nome de Jacó tinha sido mudado para Israel. Jacó erigiu então uma coluna sobre a qual derramou uma oferta de bebida e de óleo, em comemoração destes momentosos eventos. Foi também enquanto permanecia ali, em Betel, que Débora, ama de sua mãe, morreu e foi sepultada. (Gêneses 35:5-15).
Novamente, não sabemos quanto tempo Jacó morou em Betel. Ao partir dali e se mudar para o S, e enquanto ainda se achava a alguma distância de Belém (Efrate), Raquel sentiu dores de parto, e, na luta de dar à luz seu segundo filho, Benjamim, ela faleceu. Jacó sepultou ali sua amada Raquel, e erigiu uma coluna para assinalar a sepultura dela. (Gêneses 35:16-20).
Este homem, Israel, agora abençoado com o pleno complemento de 12 filhos, dos quais surgiriam as 12 tribos de Israel, viajou mais para o S. Seu acampamento seguinte é descrito como estando “a certa distância além da torre de Éder”, o que o coloca em algum lugar entre Belém e Hébron. Foi enquanto morava ali que seu filho mais velho, Rubem, teve relações sexuais com a concubina de seu pai, Bila, a mãe de Dã e de Naftali. Rubem talvez imaginasse que seu pai era idoso demais para fazer algo a respeito, mas Jeová desaprovou isso, e, por causa deste ato incestuoso, Rubem perdeu os direitos de primogenitura. (Gêneses 35:21-26; 49:3, 4; Deuteronômio 27:20; 1 Crônicas 5:1).
Talvez fosse antes de seu filho, José, ser vendido à escravidão egípcia que Jacó mudou sua morada para Hébron, onde seu idoso pai, Isaque, ainda vivia, mas não se tem certeza da data desta mudança. (Gêneses 35:27).
Certo dia, Jacó mandou José (então com 17 anos) para ver como seus irmãos estavam passando, enquanto cuidavam dos rebanhos de seu pai. Quando José finalmente os localizou em Dotã, a uns 100 km ao N de Hébron, eles o agarraram e o venderam a uma caravana de comerciantes que ia para o Egito. Isto aconteceu em 1750 AEC. Daí, levaram seu pai a crer que José fora morto por um animal selvagem. Durante muitos dias, Jacó lamentou tal perda, recusando-se a ser consolado e dizendo: “Descerei pranteando para meu filho ao Seol!” (Gêneses 37:2, 3, 12-36) A morte de Isaque, seu pai, em 1738 AEC, apenas aumentou seu pesar. (Gêneses 35:28, 29).

A Mudança Para o Egito
Cerca de dez anos depois da morte de Isaque, uma extensa fome obrigou Jacó a enviar dez de seus filhos ao Egito, para obter cereais. Benjamim permaneceu com ele. O administrador de alimentos de Faraó, José, reconheceu seus irmãos e exigiu que trouxessem seu irmão mais moço, Benjamim, ao retornarem ao Egito. (Gêneses 41:57; 42:1-20) No entanto, quando se mencionou esta exigência a Jacó, este, de início, se recusou a deixá-lo ir, temendo que algum dano sobreviesse a este filho querido da sua velhice; Benjamim, nessa época, tinha pelo menos 22 anos. (Gêneses 42:29-38) Apenas quando todo o alimento obtido no Egito já tinha sido consumido é que Jacó, por fim, consentiu com a ida de Benjamim. (Gêneses 43:1-14; Atos 7:12).
Uma vez efetuada a reconciliação de José e seus irmãos, veio o convite para que Jacó e toda a sua casa, junto com todo o seu gado e seus pertences, se mudassem para a terra fértil de Gósen, no delta do Egito, pois a grande fome devia durar mais cinco anos. Faraó até mesmo forneceu carroças e provisões alimentares para ajudá-los nisso. (Gêneses 45:9-24) Ao descerem para lá, Jeová assegurou a Jacó que esta mudança tinha Sua bênção e aprovação. (Gêneses 46:1-4) Todas as almas contadas como pertencentes à casa de Jacó, incluindo Manassés, Efraim e outros que nasceram, talvez, no Egito, antes de Jacó morrer, totalizavam 70. (Gêneses 46:5-27; Êxodo 1:5; Deuteronômio 10:22) Este total não incluía Léia, que morrera na Terra da Promessa (Gêneses 49:31), nem as filhas de Jacó, cujos nomes não são citados, nem as esposas de seus filhos. (Gêneses 46:26); compare isso com Gênesis 37:35).
Pouco depois de chegar ao Egito, em 1728 AEC, Jacó foi levado à corte de Faraó, e ali ele cumprimentou o rei com uma bênção. Jacó descreveu-se como residente forasteiro (igual a Abraão e Isaque, porque assim como estes, ele também não havia herdado a terra prometida por Deus). Quando se lhe perguntou a sua idade, Jacó respondeu que tinha 130 anos, mas que, comparado com os de seus antepassados, seus dias haviam sido “poucos e aflitivos”. (Gêneses 47:7-10).
Pouco antes da sua morte, Jacó abençoou seus netos, os filhos de José, e, por orientação divina, colocou o mais jovem Efraim à frente do mais velho Manassés. Daí, Jacó declarou a José que receberia a porção dupla da herança de primogênito: “Deveras te dou uma lombada de terra mais do que a teus irmãos, tendo-a eu tomado da mão dos amorreus com a minha espada e com o meu arco.” (Gêneses 48:1-22; 1 Crônicas 5:1) Visto que Jacó comprara pacificamente dos filhos de Hamor o lote de terreno perto de Siquém (Gêneses 33:19, 20), parece que esta promessa a José era uma expressão da fé de Jacó, na qual ele falava profeticamente da futura conquista de Canaã pelos seus descendentes, como se já tivesse sido realizada pela sua própria espada e arco. A porção dupla de José, daquela terra conquistada, consistia nos dois quinhões dados às tribos de Efraim e de Manassés.
Antes de falecer, Jacó reuniu forças para abençoar individualmente seus 12 filhos. (Gêneses 49:1-28) Mostrou ter fé na realização dos propósitos de Jeová. (Hebreus 11:21) Por causa da sua fé, e por Jeová lhe ter especificamente confirmado o pacto abraâmico de bênção, as Escrituras muitas vezes se referem a Jeová não só como Deus de Abraão e de Isaque, mas também de Jacó. (Êxodo 3:6; 1 Crônicas 29:18; Mateus 22:32).
Finalmente, em 1711 AEC, depois de 17 anos de residência no Egito, Jacó morreu aos 147 anos. (Gêneses 47:27, 28) Assim terminou o período de história desde o nascimento de Jacó até a sua morte, história que ocupa mais da metade das páginas do livro de Gênesis. (Caps 25-50) De acordo com o desejo de Jacó, de ser sepultado em Canaã, José primeiramente mandou que os médicos egípcios embalsamassem o corpo de seu pai, em preparação para tal viagem. Um grande cortejo fúnebre, condizente com o destaque de José, seu filho, partiu então do Egito. Quando chegou à região do Jordão, houve sete dias de ritos de luto, após os quais os filhos de Jacó sepultaram seu pai na caverna de Macpela, onde Abraão e Isaque tinham sido sepultados. (Gêneses 49:29-33;50:1-14).
Os profetas freqüentemente usaram o termo “Jacó” em sentido figurado, para referir-se à nação que descendeu deste patriarca. (Isaías 9:8; 27:9; Jeremias 10:25; Ezequiel 39:25; Amós 6:8; Miquéias 1:5; Romanos 11:26) Jesus, em certa ocasião, empregou o nome Jacó em sentido figurado, ao falar daqueles que estariam no “reino dos céus”. (Mateus 8:11).
Pai de José, que era o marido de Maria, mãe de Jesus. (Mateus 1:15, 16).




Abraços e fique na paz do Senhor Jesus Cristo.

Neander Silvestre

Ismael, O Outro Filho De Abraão


Filho de Abraão com Agar, significado do seu nome "DEUS OUVE- ESCUTA" escrava egípcia de Sara; nascido em 1932 AEC, seu pai tendo 86 anos naquela época. (Gêneses 16:1-4, 11-16).
Quando foi informado de que Sara também teria um filho de quem proviriam “reis de povos”, Abraão suplicou a Deus em favor de seu primogênito: “Se Ismael tão-somente vivesse diante de ti!” A resposta de Deus, depois de declarar que o futuro filho dele, Isaque, seria o herdeiro do pacto, foi: “Quanto a Ismael, eu te ouvi. Eis que vou abençoá-lo e fazê-lo fecundo, e vou multiplicá-lo muitíssimo. Ele produzirá certamente doze maiorais, e eu vou fazer dele uma grande nação.” (Gêneses 17:16, 18-20Ismael foi então circuncidado, aos 13 anos, junto com seu pai e os servos deste. (Gêneses 17:23-27).
Um ano depois, nasceu Isaque; Ismael tinha então 14 anos. (Gêneses 16:16; 21:5) Cinco anos depois, em 1913 AEC, no dia em que Isaque foi desmamado, Ismael foi pego ‘caçoando’ de seu meio-irmão mais novo. (Gêneses 21:8, 9) Não se tratava duma inocente brincadeira de criança por parte de Ismael. Antes, conforme subentendido pelo versículo seguinte do relato, poderia estar envolvida uma zombaria para com Isaque a respeito da condição de herdeiro. O apóstolo Paulo diz que tais eventos eram um “drama simbólico” e mostra que os maus-tratos infligidos a Isaque pelo meio egípcio Ismael eram uma perseguição. Assim sendo, isto era o começo dos preditos 400 anos da aflição de Israel, que terminaram com a sua libertação da escravidão egípcia em 1513 AEC. —(Gálatas 4:22-31;Gêneses 15:13; Atos 7:6; veja Isaque).
A zombaria da parte de Ismael para com Isaque resultou em ser ele próprio e sua mãe despedidos da casa de Abraão, mas não sem provisões para a sua jornada. Abraão “tomou pão e um odre de água, e deu-o a Agar, pondo-o nos ombros dela, e o menino, e então a despediu”. (Gêneses 21:14) Alguns têm interpretado isto como significando que Ismael, já então com 19 anos, também foi colocado sobre as costas de Agar, e, deveras, é assim que rezam algumas traduções. (BJ; LXX de Bagster) Certos peritos, porém, consideram a frase “pondo-o nos ombros dela” como sendo apenas parentética, inserida para mostrar como o pão e a água foram transportados, e, sendo assim, se esta frase for colocada entre parênteses, ou separada por vírgulas, remove-se tal dificuldade. Os professores Keil e Delitzsch asseveram que a expressão “e o menino” depende do verbo principal da sentença, “tomou”, e não do verbo “deu”, ou da palavra “pondo”. Esta ligação de “menino” com “tomou” é feita pela conjunção “e”. A idéia, portanto, é a seguinte: Abraão tomou pão e água, e deu-os a Agar (colocando-os sobre os ombros dela), e tomou o menino e também o deu a ela. (Comentário Sobre o Velho Testamento), 1973, Vol. I, O Primeiro Livro de Moisés, pp. 244, 245.
Agar, pelo que parece, perdeu-se no ermo de Berseba, e, assim, quando a água acabou e Ismael ficou exausto, “ela lançou o menino debaixo de um dos arbustos”. (Gêneses 21:14, 15) Esta expressão “lançou o menino” não significa que Ismael fosse um bebê de colo. A palavra hebraica yé·ledh (criança) não se refere necessariamente a uma criancinha, mas é muitas vezes aplicada a um adolescente ou rapaz. Assim, foi dito a respeito do jovem José (com 17 anos na ocasião) que ele foi vendido como escravo sob os protestos de Rubem: “Não pequeis contra o menino [vai·yé·ledh].” Lameque também falou de “um jovem [yé·ledh]” como o tendo ferido. (Gêneses 42:22; 4:23); veja também (2 Crônicas 10:8).
O gesto de Agar ‘lançar’ o menino tampouco implica que ela o carregava nos braços ou nas costas, embora evidentemente escorasse seu filho cansado. Ela aparentemente retirou subitamente seu apoio, como fizeram aqueles que trouxeram coxos e enfermos a Jesus e “quase que os lançavam aos seus pés”. (Mateus 15:30).
Em harmonia com o significado do nome de Ismael, “Deus ouviu” seu clamor por ajuda, forneceu-lhe a água necessária e permitiu que vivesse e se tornasse um arqueiro. Como habitante nômade do ermo de Parã, ele cumpriu a profecia que dizia a seu respeito: “Tornar-se-á uma zebra de homem. Sua mão será contra todos e a mão de todos será contra ele; e residirá diante da face de todos os seus irmãos.” (Gêneses 21:17-21; 16:12) Agar encontrou uma esposa egípcia para seu filho e este, com o tempo, gerou 12 filhos, maiorais e chefes de família da prometida “grande nação” de ismaelitas. Ismael também tinha, pelo menos, uma filha, Maalate, que se casou com Esaú. (Gêneses 17:20; 21:21;25:13-16; 28:9); veja Ismaelitas.
Com 89 anos, Ismael ajudou Isaque a enterrar Abraão, pai deles. Depois disso, viveu por mais 48 anos, morrendo em 1795 AEC, com 137 anos. (Gêneses 25:9, 10, 17) Não há registro de Ismael ter sido sepultado na caverna de Macpela, o local de sepultamento de Abraão e Isaque, junto com as esposas deles. (Gêneses 49:29-31).
Deus reescreveu a história de Ismael por amor a Abraão e assim tem feito pelos séculos dos séculos. Todo aquele que reconhece Jesus como o Filho de Deus e único Salvador, tem sua história pessoal reescrita, Deus muda o rumo de sua vida e isso acontece não por causa de nossos belos olhos, mas por amor a Jesus. A salvação tem Dono e é Jesus Cristo.




Abraços e fique na paz do Senhor Jesus Cristo.

Neander Silvestre

Isaías, o Profeta do Messias


Isaías era filho de Amoz. Segundo alguns historiadores afirmam que Amoz, pai de Isaías era irmão do rei Uzias. Isaías profetizou durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (Isaías 1:1). O nome Isaías significa “o Senhor salva”. O profeta era da mesma época de Amós, de Oséias e de Miquéias, e começou seu ministério em 740 a.C., ano em que morreu o rei Uzias. Teria nascido por volta de 760 e vivido pelo menos até 681 a.C. De família nobre de Judá, Isaías era casado, e tinha no mínimo dois filhos: Sear-Jasube (Isaías 7:3) e Maer-Shalai-Hash-Baz (Isaías 8:3). É provável que tenha passado a maior parte de sua vida em Jerusalém, exercendo maior influência no reinado de Ezequias (Isaías 37:1-20). A Isaías também é atribuído a composição da história do reinado de Uzias (2 Crônicas 26-22). Segundo uma tradição judaica Isaías foi serrado ao meio pelo rei iníquo Manassés.

Contexto Da Época
Isaías viveu no turbulento período assírio, presenciando o cativeiro do seu povo. Ambos os reinos (Norte/Israel e Sul/Judá), haviam experimentado poder e prosperidade. Israel governado por Jeroboão e outros seis reis de menor importância, haviam aderido ao culto pagão; Judá, no período de Uzias, Jotão e Ezequias permaneceram em conformidade com a aliança mosaica, porém gradualmente, o rigor foi diminuindo causando um sério declínio moral e espiritual (Isaías 3.8-26). Lugares secretos de culto pagão passaram a ser tolerados; o rico oprimia o pobre; as mulheres negligenciavam suas famílias na busca do prazer carnal; muitos dos sacerdotes e falsos profetas buscavam agradar os homens (Isaías 5.7-12, 18-23; Isaías 22.12-14). Tudo isso deixava claro e patente aos olhos do profeta Isaías que a aliança registrada por Moisés em Deuteronômio 30.11-20, havia sido inteiramente violada, portanto a sentença divina estava proferida, o cativeiro e o julgamento eram inevitáveis para Judá, assim como era para Israel.
Isaías advertiu Judá de que seus pecados levariam a nação ao cativeiro babilônico. A visita dos enviados do rei da Babilônia a Ezequias armou o cenário para essa predição (Isaías 39.1-6). Embora a queda de Jerusalém só viesse a ocorrer em 586 a.C., Isaías toma por certo a derrota de Judá e passa a predizer a volta do povo do cativeiro (Isaías 40.2-3). Deus redimiria seu povo da Babilônia assim como redimiu do Egito. Isaías prediz a ascensão de Ciro, o persa, que uniria os medos e os persas e conquistaria a Babilônia (Isaías 45.1). 

A Composição Do Livro
Isaías é visto como o maior profeta do Velho Testamento. O livro é uma coleção de adágios proféticos e oráculos de Isaías, a voz profética predominante na turbulenta segunda metade do século VIII a.C. (740-700). Aqui se encontra parte da literatura hebraica por demais valiosa e conhecida por apresentação direta de fidedignidade e poder soberano do Deus de Israel. Muitas passagens do seu livro estão entre as mais formosas da literatura. Alguns eruditos modernos têm estudado sua profecia poética do mesmo modo que um botânico estuda as flores, examinando-as e analisando-as.
O uso deste método de estudo tem feito com que a beleza e a unidade do livro como as de uma rosa fiquem quase esquecidas, à medida que as diferentes partes são divididas a fim de serem examinadas. Aliás, a unidade de Isaías é tema de grande controvérsia. Pelo fato de o profeta ter vivido no século VIII a.C., alguns estudiosos têm dificuldade em aceitar que ele tenha identificado Ciro, o persa, nominalmente nos capítulos 44 e 45 (do mesmo) *, pelo fato de Ciro ter entrado em cena apenas duzentos anos mais tarde. Mesmo para os que estão dispostos a aceitar o fenômeno sobrenatural da previsão do futuro, isso, muitas vezes, parece improvável quando comparado a outros oráculos.

*No capítulo 44.28, Isaías escreveu: "Que digo de Ciro: É meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz, dizendo também a Jerusalém: Tu serás edificada; e ao templo: Tu serás fundado".

Em 45.1 "ASSIM diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão“.

O único outro exemplo no Antigo Testamento em que o nome da pessoa é dado antes de seu surgimento é a menção de Josias em 1 Reis 13.2 “E ele clamou contra o altar por ordem do SENHOR, e disse: Altar, altar! Assim diz o SENHOR: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti”.*

As Dúvidas Sobre A Autoria Única
Mesmo por meio de uma leitura descontraída de Isaías, podemos detectar uma grande mudança no capítulo 40. O estilo se torna mais poético e teórico. O tom se torna conciliatório em vez de condenador. Os oráculos de acusação e juízo, que compunham a maior parte dos primeiros 39 capítulos se tornam bem mais raros. A situação histórica parece ter mudado dramaticamente. O povo mencionado está no exílio, não na Judá do século VIII. À luz de tais observações, pode-se entender facilmente por que alguns eruditos não conseguem atribuir o livro inteiro a um único autor do século VIII. 
É comum os estudiosos insistirem na existência de pelo menos dois autores diferentes para o livro, separados por no mínimo 150 anos. Normalmente fazem referência a um "deutero-Isaías" hipotético e, muitas vezes até três autores nos capítulos 40 a 66, que teriam escrito nos séculos VI e V a.C.
Mas apesar de muitos estudiosos duvidarem que Isaías tenha sido o autor de todo o livro que leva seu nome, somente o nome dele está vinculado à obra. O argumento mais forte a favor da unidade do livro de Isaías é a expressão “o Santo de Israel” como título de Deus que ocorre 12 vezes nos capítulos de 1 a 39 e 14 vezes nos capítulos 40 a 66. Fora de Isaías, aparece apenas 6 vezes no Antigo Testamento. Existem outros paralelos verbais notáveis entre os capítulos 1 a 39 e os capítulos de 40 a 66.
O testemunho do livro em si certamente insiste na realidade da profecia sobrenatural voltada para o futuro. A justificação da soberania divina em Isaías 40 a 48 se baseia na capacidade do Senhor de prever o que fará e desafiar os ídolos a fazerem o mesmo. Portanto o foco no futuro que permeia essa parte não pode ser facilmente neutralizado. A menção de Ciro se dá no ápice de uma composição poética muito bem estruturada (Isaías 44.24-28) e não pode ser ingenuamente eliminada como se fosse algo supérfluo. Além disso a evidência de que o livro de Reis, concluído até a metade do exílio, usou o livro completo de Isaías como fonte favorece a data pré-exílica para a composição do livro do profeta.
Para quem não aceita as afirmações de Jesus como referências literárias, ou declarações de autoria, o Novo Testamento reivindica que Isaías seja considerado o profeta desses oráculos para Israel, pois é, no mínimo, considerado sua fonte. Isso não implica que Isaías os tenha registrado, mas indica que a composição representa fielmente o que ele declarou. 

Particularidades De Isaías
Santo de Israel
O título de Deus usado quase exclusivamente por Isaías no Antigo Testamento é o “Santo de Israel”. Ele não só demonstra a ênfase de Isaías à santidade do Senhor, mas também reflete a preocupação do livro com a gravidade das ofensas de Israel contra Deus.
Redentor
Outra característica de Isaías é o fato de Javé ser o Redentor de Israel. Esse título para Javé só é usado quatro vezes em outros livros; todavia, ele é utilizado mais de dez vezes no livro de Isaías.
Escatologia
A escatologia (estudo da parte final do programa de Deus) encontrada em Isaías é a escatologia do Reino. Com isso, queremos dizer que a ênfase está no reino futuro de Israel, retratado como o reino centrado em Jerusalém. Paz e prosperidade abundantes, e todo o mundo iria a Jerusalém para se encher de espanto e ser instruído. A adoração adequada e a centralidade da lei são características significativas do reino. Um descendente de Jessé se assentará no trono; esse aspecto do reino, todavia, não é um destaque em Isaías. A ênfase é dada ao fato de que Javé reinará (Isaías 24.23; 33.22; 43.15; 46.6) e será o orgulho do remanescente de Judá e a glória de Jerusalém.

Esfera De Ação
Tudo indica que ele escreveu seu livro durante os reinado de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e a parte final do seu livro (capítulos 40 a 66) durante o reinado do tirano Manassés. Portanto, os acontecimentos históricos registrados em Isaías abrangem um período de mais ou menos 60 anos.




Abraços e fique na paz do Senhor Jesus Cristo.

Neander Silvestre