Separado Para Deus

sábado, 11 de junho de 2016

Absalão


A história de Absalão é uma das mais tristes e comoventes do Antigo Testamento. Ele era um jovem bonito, cheio de vida e de sonhos. Criado no palácio real, conheceu e experimentou tudo o que há de bom e de ruim no mundo restrito dos poderosos. Mas os atos pecaminosos da família real foram decisivos para que o jovem Absalão se transformasse, aos poucos, num homem astucioso, vingativo e traidor. Nesta biografia, veremos como é danoso o pecado numa família. Quando não é enfrentado e combatido com severidade, suas conseqüências são imensamente terríveis. Na casa de Davi, por um período, o pecado esteve presente de forma tão intensa que a vida do jovem Absalão foi tragada prematuramente. Que a história desse jovem nos ajude a lidar corretamente com os perigos que a vida nos impõe.
Absalão, cujo nome significa pai [é] de paz, foi um homem de guerra. Ele era o terceiro filho de Davi, e sua mãe chamava-se Maaca, filha do rei de Gesur, chamado Talmai (II Samuel 3:3). Nascido em Hebrom (II Samuel 3:2), Absalão foi um dos homens mais belos da história bíblica: "Não havia, porém, em todo o Israel homem tão celebrado por sua beleza como Absalão; da planta do pé ao alto da cabeça, não havia nele defeito algum" (II Samuel 14:25). Ele tinha uma beleza que também fora transmitida à sua irmã. "Tinha Absalão, filho de Davi, uma formosa irmã, cujo nome era Tamar" (II Samuel 13:1).
A história deste homem é narrada em II Samuel 13-18. Absalão havia decorado a lei, desde a sua tenra infância. Mas suas atitudes mostram que, para ele, a lei de Deus nada mais era do que pura retórica. Criado no palácio, acostumado a conforto e riqueza, informado sobre os bastidores do governo, sabedor das intrigas palacianas, Absalão foi lentamente desejando o poder; seu coração tornava-se possuído por um desejo incontrolável de ser rei.
Tudo isso começou depois que seu pai adulterou com Bate-Seba e mandou matar o marido desta, chamado Urias (II Samuel 11-12). Davi jamais chamou Absalão para conversar sobre seu terrível pecado. Enquanto Absalão desenvolvia seus planos de poder, seu irmão paterno, Amnom, primeiro filho de Davi com outra mulher, desenvolvia um plano repugnante: ele queria deitar-se com a bela Tamar, sua meia irmã. Amnom alimentou um amor pecaminoso, e, ao ser rejeitado, usou a força e estuprou Tamar (II Samuel 13:1-19). Davi se indignou muito, mas nada fez (II Samuel 13:21). Este episódio absurdo, contudo, revela outra faceta do coração de Absalão: ele era um homem violento e vingativo.
Ao saber do ocorrido, não falou com Amnom nem mal nem bem; porque odiava a Amnom, por ter este forçado a Tamar, sua irmã (II Samuel 13:22). Absalão manteve-se em silêncio, porque era homem astuto, sabia a hora de agir. Dois anos mais tarde, ele deu vazão ao seu coração violento: armou uma cilada e mandou matar Amnom (II Samuel 13:23-29). Outra vez Davi se indignou muito, mas nada fez (II Samuel 13:31). Absalão fugiu para a cidade de Gesur, e lá ficou exilado, por três anos (II Samuel 13:37-38). Davi chorava todos os dias a morte de Amnom, mas nada fazia (II Samuel 13:37). Diante disso, Joabe usou uma mulher habilidosa nas palavras para convencer Davi a receber seu filho em Jerusalém. Com o consentimento do rei (II Samuel 15:1-22), Joabe repatriou Absalão, mas Davi disse ao filho: Torne para a sua casa e não veja a minha face (II Samuel 15:24a). 
Por dois anos, Absalão ficou sem ver o rosto de seu pai (II Samuel 14:28). Sentindo-se isolado e discriminado, o jovem mandou chamar Joabe, e, por seu intermédio, mandou este recado ao rei: "Para que vim de Gesur? Melhor me fora estar ainda lá. Agora, pois, quero ver a face do rei; se há em mim alguma culpa, que me mate" (II Samuel 14:32). Finalmente, Davi recebeu seu filho e o beijou (II Samuel 14:33). Mas, o coração de Absalão já não estava disposto a conviver em harmonia com o pai. Ele perdera o respeito por Davi. O quinto mandamento nada mais significava para ele. O jovem príncipe, então, decidiu colocar em prática um astucioso plano para arrancar Davi do trono. Para mostrar força, aparelhou-se com carro, cavalos e cinqüenta homens; passou a fazer contato com o povo; desde a manhã, ficava à porta da cidade de Jerusalém, recepcionando, ouvindo, conversando com as pessoas simples, que vinham de várias cidades de Israel, cumprimentando-as, fazendo-se amável, doce, educado, gentil, solícito com os israelitas. Absalão falava com todos, ouvindo seu clamor e queixas contra o rei”.
Mas ele não estava interessado nos problemas do povo, nem em ajudar seu pai a governar bem; o que ele queria era saber o nível de insatisfação do povo contra o rei e ter o apoio popular contra seu pai. Para tanto, apresentou-se como alguém que sofria as mesmas dores e enfrentava as mesmas dificuldades do povo. “Sou como vocês!” Absalão era homem astuto nas palavras: “Olhe! A lei está do seu lado, mas não há um representante do rei para ouvir o seu caso” (II Samuel 15:3 – NTLH). E dizia mais:“Ah! Se eu fosse o juiz aqui! Então qualquer pessoa que tivesse uma questão ou um pedido poderia me procurar, e eu faria justiça” (II Samuel 15:4 – NTLH).
Absalão sabia falar ao coração das pessoas. O povo não percebeu o engodo. “Aos olhos do povo, a figura de Absalão começou então a distanciar-se de Davi, seu pai”. A cada dia, a imagem de Davi era desgastada e a de Absalão, fortalecida. As pessoas começaram a dar razão àquele jovem astuto. “Eles consideravam os atos e palavras de Absalão como sendo genuínos, e não traiçoeiros”. Ninguém discerniu que ali estava um filho traindo o pai.
A Bíblia mostra que, por quatro anos, Absalão se disfarçou de amigo do povo: E, quando alguém chegava perto de Absalão para se curvar diante dele, ele o segurava, abraçava e beijava (II Samuel 15 :5 – NTLH). Quanta dissimulação! Ninguém percebeu que ele furtava o coração dos homens de Israel (II Samuel 15 :6). Quando Absalão teve certeza absoluta de que o povo o amava mais do que a Davi, quando viu que a revolta contra o rei ficou mais forte, e os [seus] seguidores (...) aumentaram (II Samuel 15:12b – NTLH), armou o último passo para seu golpe de Estado: Mentiu para Davi, dizendo-lhe que teria de ir a Hebrom para prestar um culto a Deus, como cumprimento de um voto que, na verdade, nunca fizera (15:7-9). Ele usou Deus, o culto, tudo o que pôde para seus fins políticos. Como Absalão é atual! Traições como a de Aitofel são ainda mais atuais (15:12a). O príncipe astuto sentiu-se seguro e ofereceu sacrifícios públicos em Hebrom, para manter a farsa (II Samuel 15:12). Em secreto, porém, mandou as últimas orientações aos líderes das doze tribos, para que o golpe fosse perfeito: "Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão é rei em Hebrom!" (II Samuel 15:10). Os homens de bem, contudo, de nada sabiam (II Samuel 15:11).
Quando Davi foi informado de que os israelitas haviam passado para o lado de Absalão, já era muito tarde. O conspirador maldoso acabara de realizar o sonho de sua vida: ser rei, ser poderoso, ser único. Como um rei tão capacitado como Davi permitira que atos tão reprováveis se desenvolvessem ao seu redor, sem que de nada soubesse? Não há respostas fáceis, mas não é exagero dizer que seu pecado com Bate-Seba e os subsequentes atos pecaminosos de seus filhos deixaram-no profundamente fragilizado espiritualmente. O astuto Absalão se aproveitou desse “vácuo” espiritual do rei. 
Não é à toa que a Bíblia adverte: "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar" (I Pedro 5:8). A notícia de que o povo seguia a Absalão equivalia a uma declaração de guerra. Por essa razão, Davi temeu muito e teve de sair correndo de Jerusalém, levando a arca da Aliança. Ele, sua família, seus sacerdotes e conselheiros, fugiram chorando em voz alta. Sem palácio, longe do Templo, Davi mandou os sacerdotes oferecerem sacrifícios a Deus, ordenou a devolução da arca a Jerusalém e, com o coração aos pedaços, revelou um desejo incontido: "Se o SENHOR está satisfeito comigo, um dia ele me deixará voltar para ver a arca e a casa onde ela fica. Mas, se ele não está satisfeito, que faça comigo o que quiser!" 
Davi mandou Husai a Jerusalém como seu informante, disfarçado de conselheiro de Absalão, a fim de contrapor-se aos conselhos do traidor Aitofel (II Samuel 15:34). A estratégia deu certo: "Absalão acreditou na lealdade de Husai". A diferença entre os dois conselheiros estava no caráter. Seguindo o conselho maligno de Aitofel, Absalão cometeu imensa torpeza, ao se relacionar sexualmente com as concubinas de Davi, em frente de todo o povo de Israel. Tal ato foi uma afronta a Davi e ao Deus de Davi. Seguindo os conselhos do amigo de Davi, Husai, Absalão aceitou armar seu exército para a guerra contra seu pai, fazendo exatamente o que Davi queria, mas, sobretudo, era a justiça divina que estava em curso.
Husai mandou informar Davi sobre tudo (17 :15 -22). Nesse ínterim, Aitofel se sentiu preterido pelo rei e se enforcou (17 :23. Husai passou a influenciar sozinho a cabeça de Absalão, que de nada desconfiava.
Como nossas atitudes se voltam facilmente contra nós! Absalão armara o golpe, sem que seu pai soubesse; agora, estava provando de seu próprio veneno. A palavra de Deus nos alerta a esse respeito: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará (Gálatas 6:7).
Com um servo de Davi, Aitofel, Absalão traíra seu pai; com um servo de Davi, Husai, Absalão era traído. É a lei espiritual da semeadura. Não há como escapar.
Sob a orientação de Husai, o exército de Absalão se encontrou com o exército de Davi, na floresta de Efraim. Pai contra filho, filho contra pai. Ao invés de amigos, inimigos. Davi e Absalão frente a frente. Só um sairia com vida: o pai ou o filho. O coração de pai tremeu e Davi fez um pedido a seus comandantes, Joabe, Abisai e Itai: "Tratai com brandura o jovem Absalão, por amor de mim" (II Samuel 18 :5). “Joabe, Abisai e Itai ficaram espantados com essas palavras. Brandura?, pensaram eles. Depois do que Absalão fez a você? Mas permaneceram calados”. 
A guerra começou no bosque: "Ali, foi o povo de Israel batido diante dos servos de Davi; e, naquele mesmo dia, houve ali grande derrota, com a perda de vinte mil homens" (II Sm 18 :7). No final da batalha, porém, algo inesperado aconteceu: "Alguns homens de Davi viram Absalão. Ele ia montado numa mula, e, ao passar por baixo de um grande carvalho, a sua cabeça ficou presa nos galhos. A mula continuou a correr, e Absalão ficou pendurado" (II Samuel 18:9). A notícia chegou a Joabe, que, sem perder tempo, encontrou Absalão vivo. Decidido, enfiou-lhe três lanças no coração; então, dez soldados de Joabe cercaram Absalão e acabaram de matá-lo. Ali, pendurado numa grande árvore, morreu o jovem mais bonito da nação, o jovem que ousara usurpar o trono de seu pai (II Samuel 18:14-15). 
Ele quebrara o quinto mandamento;
 não viu seus dias serem prolongados. Davi estava sentado, quando soube da morte de seu filho (II Samuel 18:24,32). Profundamente abalado, entrou numa sala e chorou em alta voz, andando de um lado para outro: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" (II Samuel 18:33). Aquela era uma guerra que ele preferiria ter perdido, como mostra o texto bíblico: "Então, a vitória se tornou, naquele mesmo dia, em luto para todo o povo; porque, naquele dia, o povo ouvira, dizer: O rei está de luto por causa de seu filho" (II Samuel 19:2). 
Davi se agitava; passava a mão no peito, na testa, na cabeça; prostrava-se, levantava-se, gemia numa espécie de tortura e remorso, enquanto sua mente pensava velozmente e lhe dizia que poderia ter feito algo, enquanto era tempo; mas agora nada mais poderia fazer, a não ser chorar e gritar:
 "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão!".


LIÇÕES DA VIDA DE ABSALÃO

1. Estejamos certos: beleza não é tudo, nem é fundamental. 
Absalão era um rapaz, como se diz na Bíblia, formoso de porte e de aparência, como José, como Moisés (II Samuel 14 :25; Gêneses  39:6; Atos 7:20).O tipo de homem agradável aos olhos femininos (Gêneses 3:6). Hoje, vivemos uma espécie de ditadura do corpo: musculação, drenagem linfática, exercícios físicos, dietoterapia, endermoterapia, botox, massagem terapêutica, reiki, acupuntura, etc. É uma verdadeira guerra aos “pneuzinhos”, às celulites, às rugas. Não tenho nada contra a saúde ou a beleza, mas tudo contra o endeusamento do corpo. De que adianta o corpo ficar magro e esguio, mas a alma continuar obesa, pecaminosa e astuta? É isso também que Jesus nos ensina, quando diz: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Marcos 8:36). Beleza é fundamental, já dizia o poeta Vinícius de Morais. Beleza é importante, sim, mas não é tudo, nem fundamental. Aos olhos do Senhor, antes da beleza, vale a "retidão de coração" (Deuteronômio 12:25,28), "pois o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração" (I Samuel 16:7).

2. Estejamos firmes: obedecer a Deus é tudo.
Absalão decorou os mandamentos; desde pequeno, a lei de Deus foi gravada em sua mente (Deuteronômio 6:1-9). Davi lhe ensinava: “Não terás outros deuses. Não matarás. Não adulterarás. Não cobiçarás. Lembra-te do dia de sábado. Honra teu pai e tua mãe”. Os mandamentos estavam vivos em sua mente jovem. Davi era seu herói, seu modelo de conduta. Mas, ao ver seu “herói” quebrar o 6º, o 7º e o 10º mandamento, Absalão se desestruturou e passou a agir destrutivamente. Revoltado e cheio de astúcia, quebrou o 5º, o 6º, o 7º e o 10º mandamento. 
Fique atento: o pecado de nossos irmãos não nos autoriza a fraquejarmos na fé, nem a desobedecermos a Deus! Na vida do crente, não existe competição sobre “quem peca mais”. O salvo em Cristo não pode “ir na onda”, “na tendência”, “na pressão dos amigos”. Nesta vida, o cristão vê e ouve muitas coisas; mas de tudo o que tem visto e ouvido, a suma é: "Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem" (Eclesiastes 12:13).

3. Estejamos seguros: diálogo na família é fundamental.
Absalão soube do gravíssimo pecado de seu pai, mas, através dos outros. Ele esperou, por dois anos, que seu pai punisse Amnom, mas não viu o irmão sequer ser repreendido. Com o coração cheio de ódio, fez justiça própria: matou Amnom. Exilado por três anos, jamais foi repreendido por seu ato assassino. Ele decidiu buscar o diálogo com seu pai, que o aceitou de volta, mas lhe virou a cara, por dois anos. Irritado, mandou dizer ao pai: "Agora, pois, quero ver a face do rei; se há em mim alguma culpa, que me mate" (II Samuel 14:32). Em outras palavras, Absalão estava dizendo: “Vamos conversar sobre nossos problemas, pai!” Mas Davi apenas o beijou (II Samuel 15 :33). Que pena! O filho encheu-se de amargura e ódio, e passou a agir com astúcia, dissimulação, até usurpar o trono do pai e morrer. 
Você que é pai, que é mãe, esteja atento: diálogo em casa é fundamental! Se errou, chame os filhos, converse com eles e diga: “O pai pecou, fez besteira; me perdoem, me ajudem a superar minha fraqueza”. Eles vão entender e apoiar. Que pais e filhos se inspirem em Efésios 6:1-4 e conversem bastante.




Abraços e fique na paz do Senhor Jesus Cristo.

Neander Silvestre.

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