Foto de James C. Lewis: https://fineartamerica.com/profiles/2-cornelius-lewis.html?tab=artwork&page=1
Falar desses dois personagem foi uma das biografias que eu mais gostei de pesquisar. A cada texto, a cada referências bíblicas, eu me prendia de uma maneira especial, afinal, foram os escolhidos por Deus para cuidar do nosso Salvador Jesus Cristo. Espero que gostem, vou falar de Maria primeiro e em seguida de José.
Quem Foi Maria de Nazaré?
Maria, mãe de Jesus, foi a mulher escolhida soberanamente por Deus pela qual nosso Senhor e Salvador veio ao mundo. Ela também é conhecida como Maria de Nazaré. Pouco se sabe sobre quem foi Maria, mãe de Jesus, especialmente com respeito a detalhes biográficos. Mas a história de Maria, conforme narrada nos Evangelhos, já é suficiente para entendermos a importância dessa mulher.
Maria era uma jovem virgem que vivia em Nazaré da Galiléia. Ela era noiva de um carpinteiro chamado José (Lucas 1:26s). Assim como José, é amplamente aceito que Maria era da linhagem de Davi. O nome “Maria” é a forma grega do nome hebraico Miriã, cujo significado é incerto.
A História da Jovem Virgem Maria
Mateus interpreta que Maria era a virgem da qual profetizou o profeta Isaías (Mateus 1:23; cf. Isaías 7:14). Embora essa profecia seja alvo de muitos debates teológicos, é inegável que seu cumprimento pleno se deu no nascimento de Jesus Cristo. Portanto, a virgem de quem falou Isaías é Maria; e seu filho, o Emanuel, é Jesus.
Maria, mãe de Jesus, deve ser distinguida de outras mulheres que são citadas no Novo Testamento com esse mesmo nome. Algumas dessas mulheres foram: Maria, mãe de João Marcos (Atos 12:12); Maria de Betânia (Lucas 10:42; João 11:1); a mãe de Tiago e José (Mateus 27:61); e Maria Madalena (Lucas 8:2).
Maria é mencionada nas passagens bíblicas que fazem referência a infância e juventude de Jesus (Mateus 1:18-25; 2:11-21; Lucas 1:26-56; 2:1-51). Depois, ela também é mencionada direta e indiretamente em outras referências neotestamentárias (Mateus 12:46-50; João 2:1-11; 19:25-27; Atos 1:12-14; Gálatas 4:4).
Maria Recebe a Visita de Um Anjo
O mesmo anjo, Gabriel, que havia predito o nascimento do profeta João Batista, também foi enviado a Nazaré para predizer o nascimento de Jesus. Naquela pequena aldeia da Galiléia, vivia Maria de Nazaré. Ela era uma virgem prometida em casamento a um homem que vivia na mesma aldeia.
É interessante que a cidade de Nazaré não é mencionada uma única vez no Antigo Testamento, de modo que aquele pequeno vilarejo era visto até mesmo com desdém por alguns (João 1:46). Mas nos planos soberanos de Deus havia ali uma virgem a qual traria ao mundo a concretização da promessa da encarnação do Salvador.
Em sua visita, Gabriel saudou Maria como uma mulher agraciada. Sua salvação significava simplesmente que ela era a destinatária do favor de Deus, escolhida para ser a mãe de Jesus (Lucas 1:28). Diante de tal saudação, ela demonstrou temor e perplexidade (Lucas 1:28).
O anjo então tranquilizou Maria. Ele lhe assegurou que ela havia achado graça diante de Deus, e lhe anunciou que ela ficaria grávida e daria a luz ao “filho do Altíssimo” (Lucas 1:30-33). Ao ouvir tais palavras, Maria pediu uma explicação ao anjo. Ela não entendia como isso seria possível, já que ainda não havia conhecido homem algum (Lucas 1:34).
Gabriel lhe explicou que sua concepção resultaria de uma ação divina e não humana. Portanto, o próprio Espírito Santo produziria em seu ventre esse milagre extraordinário (Lucas 1:35-37). Diante da explicação dada pelo anjo, Maria prontamente se mostrou humilde e sinceramente rendida a tamanha dignidade que soberanamente Deus havia lhe concedido ao escolhê-la (Lucas 1:38).
No período em que ficou grávida, Maria já estava desposada legalmente com José. O casal estava aguardando apenas a festa de núpcias e o início da vida em comum. Foi por isso que José teve dificuldade em aceitar a repentina gravidez de Maria.
Foi preciso que um anjo do Senhor lhe aparecesse em sonho para explicar-lhe o que de fato havia acontecido (Mateus 1:19,20). Após ter sido confortado e encorajado pelo anjo, José não hesitou em assumir Maria e a recebê-la como sua esposa (Mateus 1:21).
Maria Dá à Luz a Jesus
Maria deu à luz a Jesus em Belém. Naquela ocasião ela estava acompanhando seu esposo, José, o qual havia ido até Belém a fim de cumprir o alistamento decretado por César Augusto em todo Império Romano (Lucas 2:1-5).
Essa viagem certamente foi muito exaustiva para Maria, considerando que eles percorreram uma distância aproximada de 140 quilômetros. Provavelmente devido ao senso que estava ocorrendo, o casal não encontrou vaga na estalagem. Isso deve ter ocorrido porque certamente havia muitos oficiais e soldados romanos hospedados na cidade. Então José e Maria abrigaram-se no estábulo que talvez ficasse numa gruta. Foi ali que Maria deu à luz a Jesus Cristo.
A Vida de Maria Após o Nascimento de Jesus
São poucos os detalhes sobre a história de Maria após o nascimento de Jesus. Sabe-se que sua família viveu em Nazaré, com exceção do tempo em que passaram no Egito se refugiando da ira de Herodes.
Sobre a infância de Jesus, a Bíblia nos informa apenas sobre o episódio em que Ele, já com doze anos, ficou em Jerusalém após a celebração da Páscoa. Quando perceberam que Jesus não estava com eles, José e Maria voltaram a Jerusalém e o encontraram no Templo entre os doutores.
Maria foi quem expressou toda sua preocupação. Ela questionou Jesus sobre o porquê de Ele ter feito aquilo. Como resposta, ela escutou dele as conhecidas palavras: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”(Lucas 2:49).
Maria Durante o Ministério de Jesus
Pouquíssimas vezes Maria é citada durante o ministério de Jesus. Provavelmente ela não o acompanhava em suas viagens missionárias, pelo menos não frequentemente. No entanto, ela esteve presente no primeiro milagre de Jesus registrado nos Evangelhos, quando Ele transformou água em vinho em um casamento celebrado em Caná (João 2:1s).
Mais tarde, em outra ocasião, Maria e os irmãos de Jesus foram lhe chamar. Ao ser comunicado disso, Jesus enfatizou que a fidelidade espiritual está acima dos laços familiares. Então Ele olhou para a multidão e disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe” (Marcos 3:34,35).
Depois disso, Maria, mãe de Jesus, aparece novamente no texto bíblico já no relato da crucificação. Ela ficou aos pés da cruz onde Cristo estava, e foi amorosamente recomendada ao apóstolo João pelo Senhor Jesus (João 19:25-27). Essa recomendação foi uma das sete frases ditas por Jesus na cruz, e demonstrou a humanidade de Jesus e sua preocupação por sua querida mãe naquela hora de agonia.
Fora dos Evangelhos, Maria é citada nominalmente apenas no livro de Atos dos Apóstolos. O livro de Atos conta que a mãe de Jesus estava juntamente com os discípulos perseverando “unânimes em oração” (Atos 1:14).
Maria, Mãe de Jesus, Teve Outros Filhos?
A Bíblia oferece algumas evidências de que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos após seu nascimento. A Bíblia afirma categoricamente que ela permaneceu virgem até dar à luz a Jesus. No entanto, a Bíblia não menciona nada a respeito de ela ter permanecido nessa condição após o nascimento de Jesus (Mateus 1:24,25).
No Evangelho de Lucas é dito que Jesus foi o primogênito de Maria (Lucas 2:7). É verdade que apenas essa passagem não é suficiente para se provar que Jesus teve irmãos uterinos. Mas o Novo Testamento também menciona em outras passagens os irmãos e irmãs de Jesus. Portanto, a harmonia de tais passagens parece se tornar conclusiva (Mateus 12:46,47; Marcos 3:31,32; 6:32; Lucas 8:19,20; João 2:12; 7:3,5,10; Atos 1:14).
Além disso, defender que os irmãos de Jesus citados no Novo Testamento são apenas filhos de José, é inferir algo que não está no texto. Também o argumento de que os irmãos citados na verdade eram seus primos, não se sustenta à luz do idioma grego, o qual foi escrito o Novo Testamento.
A Morte de Maria, Mãe de Jesus
A Bíblia não fala nada a respeito da morte de Maria, mãe de Jesus. No entanto, desde os tempos mais antigos da Igreja Cristã, surgiu-se uma tradição acerca de sua suposta ascensão ao céu.
Na verdade essa tradição se divide em duas posições diferentes. A primeira defende a ascensão de Maria, mãe de Jesus, ainda em vida. A segunda defende a ascensão de seu corpo após a morte. Novamente vale reforçar que isso se trata apenas de uma tradição, ou seja, não é uma doutrina fundamentada nas Escrituras.
Em 1950, o Papa Pio XII promulgou esse dogma na Igreja Católica. No entanto, sua bula não é exatamente conclusiva para apontar qual das duas vertentes foi realmente adotada pela teologia católica.
Maria, Mãe de Jesus, Deve Ser Adorada?
Obviamente Maria, mãe de Jesus, não deve ser adorada. Nossa adoração deve ser direcionada apenas a Deus (Êxodo 20:2-5; Lucas 4:8). Também vale dizer que não há qualquer base bíblica para defender que Maria ocupa uma posição de destaque ao lado de Jesus, como um tipo de intercessora. Segundo a Bíblia, o próprio Cristo é o único mediador entre Deus e o homem (1 Timóteo 2:5,6).
Além disso, a Bíblia é bastante clara em dizer que todos os seres humanos pecaram e carecem da graça de Deus (Romanos 3:23; Efésios 2:8). Nesse caso Maria não é uma exceção, ou seja, biblicamente a doutrina da impecabilidade de Maria não faz qualquer sentido. Portanto, dizer que Maria, mãe de Jesus, nasceu sem estar contaminada pelo pecado original, é ir além do que as Escrituras dizem.
A Bíblia testemunha apenas sobre Um que nunca pecou, a saber, Jesus Cristo, sobre o qual o escritor do livro de Hebreus enfatizou que Ele “foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4:15; cf. 7:26). O mesmo também foi dito pelo apóstolo Pedro, ao escrever que Ele não cometeu pecado (1 Pedro 2:21-25).
Apesar disso, vale dizer que Maria, mãe de Jesus, deve ser muito respeitada. Ela foi uma mulher bem-aventurada e digna de ser imitada, pelo seu exemplo de humildade, fidelidade e abnegação diante dos planos de Deus. Infelizmente algumas pessoas, na tentativa de reprimir os erros da teologia católica, acabam igualmente errando de forma inversa. Elas menosprezam e subestimam completamente a mulher a quem Deus escolheu soberanamente para receber a incalculável honra de dar à luz a Jesus Cristo.
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José, O Carpinteiro
Com
esta designação de “José o carpinteiro”, referimo-nos a José, marido de Maria,
a mãe de Jesus Cristo.
Parece
à primeira vista, que temos muita informação sobre este personagem. Ele aparece
logo no início dos evangelhos de Mateus e de Lucas, na descrição do nascimento
de Jesus com uma completa genealogia.
Mas,
depois desta imponente introdução, fica-se com uma certa desilusão, porque além
destas passagens relacionadas com o nascimento de Jesus, José só volta a
aparecer uma segunda vez quando Jesus tinha doze anos de idade e nunca mais é
mencionado, pelo menos nos textos canónicos da Bíblia.
A
maior parte das informações encontra-se nos textos apócrifos, mas parecem-me
pouco credíveis e fruto da piedade dos seus autores.
Entre
os textos apócrifos, a “História de José Carpinteiro” é o principal “livro” que
pretende colmatar esta falta de informação, mas mencionamos este texto só a
título informativo, pois no nosso estudo sobre José só nos iremos basear nos
evangelhos canónicos e no que pode ser comprovado pela arqueologia e pela
geografia da Palestina que certamente não mudou.
Origens de José
Se
acreditarmos nos textos de Mateus 1:1/17, onde temos a genealogia desde Abraão
até José e em Lucas 3:23/38, onde temos a mesma genealogia, mas em sentido
contrário, desde José até Adão, podemos afirmar que é bem conhecida a origem de
José. Mas, parece-me difícil acreditar a 100% nas duas genealogias quando há
algumas diferenças na parte em que seria de esperar uma perfeita sobreposição
de informação. Julgo no entanto, que duma maneira geral, as duas informações,
de Mateus e de Lucas, são praticamente coincidentes.
Também
Lucas 2:4, confirma que José era da tribo de Judá, a mesma do Rei Davi, pois
teve de ir da Nazaré na Galileia a Belém na Judeia, cidade dos seus
antepassados, para o recenseamento ordenado pelas autoridades romanas.
Porque Emigrou José Para a Galileia
Se
José era da tribo de Judá, porque emigrou da Judeia, terra dos seus
antepassados, onde poderia ter terrenos, para a Galileia, território de outra
tribo, onde ele não poderia possuir propriedades?
Penso
que a resposta está na sua profissão. Um carpinteiro necessita de madeira para
trabalhar. Nos nossos dias, basta ir a algum fornecedor de material e comprar a
madeira ou telefonar a uma serração que umas horas depois está na sua oficina
um camião (caminhão) com o carregamento da madeira indicada, já serrada em tábuas,
seca na estufa e pronta a ser trabalhada. Mas José viveu numa época bem
diferente. Ele tinha de montar a sua oficina não muito longe duma floresta onde
houvesse árvores que pudessem fornecer boa madeira.
Penso
que as características geológicas e climatéricas dos nossos dias, serão as
mesmas da época de José, bem como a vegetação de crescimento espontâneo.
Na
Judeia, terra dos seus antepassados, a precipitação média anual não vai além
dos 100 milímetros por ano, enquanto na Galileia, esse valor é de 700 a 1000
milímetros por ano. Nazaré fica na baixa Galileia, região predominantemente
agrícola, enquanto as árvores que poderiam fornecer matéria-prima para a
pequena indústria de José, cresciam na alta Galileia e deve ter sido bem árduo
o trabalho de levar os troncos para a sua oficina.
Profissão de José
De
acordo com Mateus 13:55 e Marcos 6:3, podemos concluir que José era carpinteiro
e como era natural nessa cultura, em que os filhos geralmente seguiam a
profissão dos pais, José ensinou essa profissão a Jesus.
Mas o
que é um carpinteiro?
Mesmo
na nossa cultura, tanto é carpinteiro o que ainda trabalha manualmente, com o
martelo, serrote, plainas etc, como a maioria nos nossos dias que utiliza
ferramentas eléctricas, como ainda o que se senta em frente do computador,
marca as dimensões da peça de madeira que pretende, e o computador comanda as
máquinas que lhe preparam a peça desejada com precisão de milímetro, já
aplainada e até envernizada se o equipamento for programado para isso.
Mas,
temos também os vários tipos de carpinteiros dos nossos dias, desde o carpinteiro de cofragem da
Construção Civil, ao carpinteiro especializado em móveis vulgarmente conhecido
por marceneiro, até ao carpinteiro de Construção Naval, talvez o mais
especializado dos carpinteiros.
Muito
mais difícil é saber o que era, e o que fazia o carpinteiro na época em que
José viveu.
Julgo
que esta informação da profissão de José, é a mais importante para este estudo.
No aspecto social
Temos
várias referências ao carpinteiro no Velho Testamento. Podemos ler em 2º Samuel
5:11, 2º Reis 12:11, 2º Reis 22:4/6.
Em
todas estas referências o carpinteiro aparece em
primeiro lugar na lista dos profissionais de Construção Civil e não há qualquer
referência aos Arquitectos nem Engenheiros. Somente em II Reis que citamos, há
essa referência “.. aos que têm o cargo da obra..” como está
em Almeida e que alguns tradutores se precipitaram em traduzir porempreiteiros certamente
sem o significado técnico que esta palavra tem nos nossos dias.
Isto
significa simplesmente que nessa época as profissões não tinham equivalência às
dos nossos dias. Ainda não tinham surgido as profissões de Arquitecto nem de
Engenheiro de Construção Civil e quem exercia estas funções era o carpinteiro ou o pedreiro mais
experiente e especializado.
Noutras
referências bíblicas que encontramos, como 1º Crônicas 14:1, fala-se em pedreiros
e carpinteiros, e em 1º Crônicas 22:15 encontramos canteiros,
pedreiros e carpinteiros. Quando nos nossos dias se fala em canteiros
e cantaria, só nos lembramos dos materiais de revestimento e rochas
ornamentais, que também se usavam nessa cultura em que José viveu. Mas nessa
época, havia ainda, uma outra grande responsabilidade do canteiro, pois era o
profissional que escolhia e talhava a pedra, que nesse tipo de construção
mantinha a solidez do edifício, numa época em que ainda não havia betão armado
(concreto armado). Nos nossos dias, podemos ver em cada uma das pedras dos
antigos edifícios históricos em Portugal, como o Mosteiro da Batalha ou o dos
Jerônimos, a marca do responsável por cada uma dessas pedras, pois nalgumas
zonas do edifício, nomeadamente nas abóbadas, se alguma dessas pedras não
resistir ao esforço, pode colocar em risco todas as outras.
Penso
podermos concluir que o carpinteiro, assim como o canteiro e o pedreiro, nessa
cultura, era pessoa prestigiada e com nível econômico e social acima da média.
O Que Fazia o Carpinteiro?
Podemos
ainda colocar a seguinte questão: Mas, se não há uma perfeita equivalência
entre as profissões nessa cultura e nos nossos dias, então o que fazia o carpinteiro?
Penso
que o carpinteiro dessa época
engloba várias profissões dos nossos dias, pois nós vivemos numa cultura
altamente especializada, em que cada profissão se desdobra em várias
especializações. Agora, já ninguém fala nos sábios que antigamente pretendiam
saber tudo. Há cerca de 50 anos havia os Engenheiros que pretendiam saber tudo
de engenharia, o que é impensável nos nossos dias em que há engenheiros das
mais diversas especializações.
Podemos
imaginar o que seria o trabalho de José.
Primeiro,
pegava no machado e procurava uma boa árvore, para obter a madeira para o seu
trabalho, numa época em que ainda não havia os madeireiros dos nossos dias.
Para isso, teria de trepar às montanhas, pois na maior parte do território de
Israel só havia pequenos arbustos.
Este
pormenor, como já dissemos, pode explicar porque é que José, sendo descendente
de David, da tribo de Judá, foi viver na Nazaré, que ficava na Galileia, onde
não podia possuir terrenos de acordo com a lei judaica, embora nessa época já
estivessem dominados pelos romanos e não sabemos se essa velha lei que dividia
o território pelas várias tribos, ainda seria cumprida a rigor. Mas penso que
José terá sido bem recebido pelos nazarenos, não só por ser pessoa simpática e
pacífica, como pela sua profissão, pois vinha implantar mais uma indústria e
arranjar postos de trabalho na pacata cidade de Nazaré.
Já
vimos que o carpinteiro pegava no machado
para derrubar a árvore. Mas, e depois, numa época em que não havia máquinas
para transportar os troncos?
Certamente
que os troncos das árvores seriam arrastados até à sua oficina na Nazaré,
possivelmente com a ajuda de bois para esse trabalho. Mesmo admitindo que as
árvores maiores cresciam no alto dos montes, sendo este trabalho de certa
maneira facilitado pelo declive do terreno, certamente que essa seria uma fase
bem difícil da sua profissão.
Podemos
imaginar a casa de José com um grande quintal cheio de troncos de árvores.
Mas,
continuamos com as nossas dúvidas. Que fazia ele com esses grandes e pesados
troncos de árvore? Nessa época ainda não havia serrações com serras eléctricas,
muito menos estufas para secar a madeira.
É
principalmente neste pormenor que podemos obter uma “fotografia”, mesmo que
desfocada de José.
Todos
esses troncos de árvore, tinham de ser serrados manualmente para depois serem
secos ao ar quente e seco da Nazaré.
Não
sabemos bem como era o machado e a serra de José. Nessa época, cerca do ano
zero da nossa era, o bronze já tinha sido substituído pelo novo metal, o ferro,
que iria mudar o mundo, mas não podemos confundir o ferro fundido com o aço dos
nossos dias. Era certamente uma pesada serra de ferro fundido, manobrada por
dois homens, um em cada extremidade. Trabalho muito violento, para transformar
os troncos em tábuas que pudessem ser utilizadas na sua carpintaria.
É
impensável que José fosse o velhinho que andava agarrado ao seu cajado, como
nos mostram muitas imagens, fruto da “devoção” dos crentes, com a intenção de
“comprovar” a virgindade perpétua de Maria, pois esse respeitável velhinho
dessas imagens, nunca poderia ser o verdadeiro José, o carpinteiro dessa época.
Pelo
contrário, a profissão de carpinteiro leva-nos a imaginar um homem jovem ou de
meia-idade, de grande estatura, músculos poderosos, mas também capacidade
intelectual, pois ele era também o arquitecto e o engenheiro dos seus
trabalhos.
Se
Jesus era o Filho de Deus, também não o consigo imaginar um jovem pequeno e
magro. Aliás Lucas 1:80 informa-nos que ..o menino crescia e se robustecia em espírito... dando a
entender que foi um jovem à altura do seu pai adotivo, pois se não fosse
assim, não poderia ser também carpinteiro como José. Marcos 6:3.
Que Tipo de Carpinteiro Foi José?
A
construção civil da época era geralmente de pedra. Segundo o investigador e
historiador Joaquim Jeremias, havia em Jerusalém alguns edifícios com três
pisos, que certamente necessitariam de vigamento de madeira para os pavimentos,
mas na Nazaré, penso que todas ou quase todas as habitações teriam só um piso.
Mesmo assim, só alguns ramos seriam suficientes para a cobertura das habitações
mais humildes da Nazaré e isso não exigiria a intervenção dum carpinteiro como
o relato bíblico nos apresenta. Nessa época, estava em construção a cidade de
Séforis onde o Império Romano colocara a capital da Galileia e onde certamente
haveria edifícios de habitação e edifícios públicos mais luxuosos onde as
coberturas seriam com asnas de madeira e não os simples ramos das pobres
habitações da Nazaré. Séforis ficava somente a seis quilômetros a noroeste da
Nazaré e aí haveria certamente trabalho para os bons profissionais de
carpintaria. É bem possível que José tivesse trabalhado nesses edifícios
ajudado pelo jovem Jesus.
Não é
possível saber que tipo de carpinteiro era José, mas olhando para o mapa de
Israel da época, e para a localização da Nazaré, pelo menos suspeito que fosse
carpinteiro de Construção Naval.
Nós os
portugueses, por influência da nossa Nazaré que é vila piscatória, somos
tentados a imaginar a Nazaré bíblica ao pé do Mar da Galileia, o que não é
verdade, pois estava a uma distância de 25 quilômetros. Isto parece à primeira
vista afastar a possibilidade de José ser carpinteiro de construção naval.
Mas
não podemos raciocinar com base na realidade dos nossos dias, em que todos os
estaleiros se construção naval estão ao pé do mar.
Para
um hábil carpinteiro como José, arrastar o barco por esses 25 quilômetros,
talvez fosse mais fácil do que arrastar os pesados troncos necessários à sua
construção. Aliás, sabemos que em Corinto já havia a técnica de levar barcos
pelas estradas. Esses eram barcos de mercadorias e passageiros, que navegavam
no Mediterrâneo, certamente muito maiores do que os barcos de pesca, do lago a
que chamamos o Mar da Galileia.
Noto
também uma forte ligação de Jesus aos homens do mar, nomeadamente os
pescadores, que pode ser o indício do que terá sido a sua vida desde os 12 até
aos 30 anos. Grande percentagem dos apóstolos eram pescadores, muitas das
parábolas estavam relacionadas com o mar e a pesca, além de Jesus mostrar que
estava perfeitamente identificado com o ambiente do Mar da Galileia, embora
esse pormenor possa ser atribuído à sua natureza divina.
Admitindo
que José foi carpinteiro de Construção Naval, uma das dificuldades do seu
trabalho seriam os 25 quilômetros que separam Nazaré do Mar da Galileia,
através dum caminho montanhoso. É verdade, que não se sabe por onde passava a
tal estrada, ou simples caminho da Nazaré ao Mar da Galileia, pois não ficaram
vestígios arqueológicos como no caso das vias romanas, mas qualquer engenheiro
civil ou topógrafo ou outro profissional ligado a estradas, em face duma planta
topográfica suficientemente ampliada, não teria dúvidas em “adivinhar” qual a
provável localização dessa estrada ou caminho, pois nessa época não havia
máquinas para grandes trabalhos de escavação ou terraplenagem, muito menos se
podia pensar em túneis, e a conclusão seria sempre uma estrada de montanha com
várias subidas e descidas. Também o relevo obrigaria a muitas curvas e os 25
quilômetros de distância em linha recta, por estrada seriam certamente muitos
mais.
Como Era José Como Homem
Encontramos
em Mateus 1:19. José, seu
esposo, sendo justo, e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu
repudiá-la em segredo. Aqui refere-se à atitude de José quando
soube que Maria estava grávida antes de se juntarem pelo casamento. Aconselho a
leitura do meu artigo “Maria, mãe de Jesus”, onde este assunto é tratado com
maior desenvolvimento.
Parece
um tanto estranha a interpretação de Mateus, que classifica José como “justo”
devido à sua atitude. Nesse contexto cultural veterotestamentário, justo era o
que praticava a justiça de acordo com a Velha Lei. Se José apelasse para a
justiça segundo a Lei de Moisés, Maria seria condenada à morte por lapidação se
não houvesse alguma intervenção das autoridades romanas para impedir tal
execução, pois viviam numa época em que a aplicação da velha Lei tinha algumas
limitações impostas por Roma.
Penso
que, mais importante do que a classificação de Mateus, é examinarmos a atitude
de José, antes da intervenção do anjo que lhe falou.
José
não quis acusar Maria de infidelidade e resolveu deixá-la em segredo. Nem
sabemos se terá exigido do pai de Maria a devolução do que lhe teria pago, como
era tradição entre os judeus. Penso que esta atitude não nos mostra um homem
justo, muito menos se pensarmos no que era o homem justo nessa cultura. Eu
preferia chamar-lhe de homem pacífico, conciliador, um homem bom, que preferiu
ficar prejudicado a apelar para a justiça a que tinha direito.
Em
Mateus 1:20/25 temos a descrição do anjo que em sonhos apareceu a José.
Muito
se tem dito de Maria como a mulher escolhida por Deus para a concretização dos
Seus planos, mas penso que o mesmo podemos dizer de José, que também foi o
homem escolhido por Deus.
Apesar
de todas as compreensíveis dificuldades, José aceitou prontamente as instruções
do Anjo que lhe apareceu. Atendendo à profissão de José, homem realista,
habituado a raciocinar, penso que não haja aqui qualquer ingenuidade ou
fanatismo religioso. Isto mostra que José era homem de fé, uma fé consciente
dum verdadeiro escolhido do Senhor.
Em
Mateus 2:13/14 e Mateus 2:19/21 temos novas aparições do anjo a que
José prontamente obedece.
Nenhum
dos evangelistas assistiu pessoalmente a estes acontecimentos e só Mateus
registou esta fuga para o Egito e o massacre das crianças. Lucas que foi tão
meticuloso ao escrever o seu evangelho, como ele próprio afirma logo no início,
parece ter rejeitado estas informações, assim como muitas outras dos antigos
textos que ficaram conhecidos como os apócrifos do Novo Testamento que tentam
colmatar o silêncio do que terá acontecido antes de Jesus iniciar a sua
pregação.
Em
Lucas 2:41/50 temos uma referência a José, embora o seu nome não apareça. Neste
acontecimento, tanto José como Maria, têm o comportamento de qualquer casal que
procura o seu filhinho Jesus, nessa altura já um jovenzinho de 12 anos.
Quando
encontraram a Jesus, foi Maria que perguntou: Filho, por que nos fizeste isso? Trata-se duma pergunta
que tem um certo tom de repreensão. A atitude de José e a precipitação de
Maria, numa altura em que tal era bem compreensível devido à sua preocupação,
mostram um homem pacífico que não intervinha sem necessidade, pois se houvesse
alguma repreensão a fazer a Jesus, era a ele, como chefe de família que
competia tomar a iniciativa. Mas afinal, nem José nem Maria compreenderam a
resposta de Jesus.
Conclusão Sobre José:
Não há
mais referências a José em toda a Bíblia. A informação que temos é pouca, mas
já nos basta para “vermos” um homem fisicamente grande e forte, com qualidades
de chefia que se impõe não pelo seu autoritarismo mas pela sua competência e
espírito pacífico e tolerante, além de ser um verdadeiro crente, que cumpriu a
função para que o Senhor o chamou, pois quando Deus o escolheu, bem sabia quem era
José, o escolhido do Senhor.
Abraços e fique na paz do Senhor Jesus Cristo.
Neander Silvestre
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